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Antes de a paisagem ser considerada um gênero artístico, obras isoladas abordaram este tema, por exemplo, na Roma Antiga e na pintura chinesa. No ocidente, depois de ser renegada por quase toda a Idade Média, foi no período Gótico que a natureza voltou a ser valorizada e as paisagens passaram a ocupar o segundo plano das pinturas - retábulos religiosos e iluminuras que retratavam cenas agrícolas e atividades de lazer da nobreza - tendo uma importante conotação simbólica.

A partir do Renascimento italiano, principalmente entre os artistas da Escola Veneziana, cresceu o interesse artístico pela paisagem. Muito em função do próprio pensamento renascentista, em seu ideal naturalista e humanista, que valorizou o terreno e o humano frente ao celestial e ao divino. O artista renascentista portava-se como um cientista que observava, analisava e documentava a natureza através de sua prática - como podemos observar nas paisagens de fundo de A Primavera, de Botticelli.

Porém isso não resultou, necessariamente, em uma arte insensível. Na pintura veneziana, por exemplo, houve uma preocupação maior com a luz e a cor do que com a forma, produzindo uma obra mais lírica e suave, e fazendo com que a paisagem merecesse tanta ênfase quanto os personagens representados. Houve nesse contexto uma liberação da pincelada e a natureza foi trabalhada de forma mais espontânea e expressiva, se comparada a obras de outras regiões da Itália.

Essa soltura teve continuidade na arte de alguns maneiristas que intensificaram o caráter expressivo das imagens, constituindo linguagens bastante singulares. A vista de Toledo sob tormenta, que nos proporciona El Greco, é um exemplo. Já as paisagens da mesma época, mas realizadas por artistas dos Países Baixos, como Bruegel (por exemplo, A Colheita, de 1565, citada na animação de abertura do jogo de Quelícera), são registros da realidade camponesa daquele contexto. É singular a integração que o artista conseguiu representar entre o camponês e sua paisagem. Tais obras foram determinantes para que, no século XVII, a paisagem se tornasse um gênero independente, principalmente naquela região. Isso ocorreu também pelo fato daquelas províncias protestantes, ao contrário das regiões católicas e de governo monárquico, não apresentarem uma pintura Barroca vinculada aos intuitos religiosos da Contra-Reforma, nem mesmo ao discurso da nobreza que valorizava as temáticas eruditas (históricas e mitológicas). As paisagens setentrionais barrocas apresentavam um caráter singelo e de extremo naturalismo, como vemos na Vista de Delf, de Vermeer, diversas das paisagens de tendência classicista, freqüentes na França e até em Veneza durante o Barroco. Segundo Slive, o gênero de paisagem foi tão prolífero na Europa Setentrional que chegaram a existir especializações, sub-gêneros: vistas panorâmicas, florestas, estradas rurais, rios e canais, pôr-do-sol, cenas de luar, estações do ano, com animais e outras mais.

Durante o Romantismo este gênero foi ainda mais valorizado. A paisagem foi potencializada como meio de simbolizar o divino, o transcendente, principalmente na Alemanha da época. O artista romântico criticava o modo de vida e os valores burgueses cultivados no mundo moderno, as conseqüências desastrosas do processo de industrialização na Europa, da Revolução Industrial na Inglaterra, do crescimento acelerado das cidades e do excessivo racionalismo do Iluminismo. Contrapunha, assim, civilização e natureza, servindo-se da paisagem como forma de alcançar os valores transcendentais, esquecidos em meio aos valores materialistas. A forma de registrar a paisagem durante o romantismo remetia a esse simbolismo, um olhar que enfatizava a grandiosidade e incomensurabilidade da natureza, que revelava a insignificância do homem, sua fragilidade e, principalmente, sua solidão existencial, somente curada no retorno às raízes, à mãe natureza.

É recorrente no romantismo a paisagem que contrasta com a fragilidade do ser humano diante da grandiosidade do mundo natural, que plasma o sublime, o inominável. Em Friedrich, a natureza convida à intimidade espiritualizada, à experiência mística silenciosa. Já o inglês Turner mostra a força incontrolável da natureza em suas catástrofes naturais. Constable trata a paisagem como cenário para cenas idílicas, como meio de despertar emoções e resgatar a tranqüilidade perdida no ambiente urbano.

A temática da paisagem persistiu com os impressionistas, mas vista a partir de descobertas da física moderna de que a cor não reside nos objetos a priori, mas é o resultado da reflexão da luz incidindo sobre a superfície. Nesse sentido, o artista impressionista estava muito próximo do artista renascentista, ambos tomando a natureza como algo a ser observado analiticamente. No entanto, ao contrário do renascentista, os impressionistas pintaram a paisagem ao ar livre observando a luz natural e suas modificações sobre a percepção das cores. Eles abriram mão do naturalismo em busca de uma nova configuração da imagem artística calcada na impressão de lezes e cores que temos quando passamos os olhos sobre um determinado lugar. Esse objetivo teve continuidade nas décadas seguintes, como podemos perceber em Van Gogh, Cézanne (o que pode ser bem observado em suas obras feitas a partir da Montanha Saint Victoire) e, até mesmo, nas paisagens que circundam os personagens das obras de Redon (como Boudha)


Atualização em 30/01/2006.

 


Botticelli
A Primavera


El Greco
Toledo sob tormenta


Vermeer
Vista de Delft


Cezanne
Montanha Saint Victoire


Redon
Boudha