Alguns
instrumentos musicais foram apropriados
de pinturas de nossa tradição artística para atuar
como objetos em A Mansão de Quelícera.
A
relação entre música e artes plásticas,
em vários momentos da história, foi bastante íntima,
como na relação entre cantos e catedrais durante o período
Gótico,
por exemplo. Mas a utilização da representação
de instrumentos musicais na pintura tem uma simbologia particular, freqüentemente
relacionada com abordagens alegóricas,
fazendo alusão à sensibilidade e valores espirituais.
No
Claustro, estão um instrumento apropriado da obra A
música, de Baldung, e no Salão
de Baile encontram-se tantos outros, partes de pinturas de Vermeer
nas quais a conotação alegórica é bastante
visível: uma viola (apropriada de A
tocadora de viola), um violoncelo e um virginal (ambos
retirados da obra Mulher
sentada ao virginal). Schneider até fala da
preferência deste artista por instrumentos musicais de corda,
mas destaca que nenhum outro instrumento é tão freqüente
em Vermeer como o virginal (um tipo simplificado de cravo). Algo que
pode ser justificada pelo fato de que este foi o instrumento musical
mais popular entre as famílias burguesas dos séculos XVI
e XVII de sua região. No entanto, isso não diminui o papel
alegórico que o instrumento desempenha em sua obra, como podemos
ver pela frase latina que o artista inscreve na tampa do virginal de
uma de suas obras "MVSICA LAETITAE COMES MEDICINA DOLORVUM",
ou seja, a música é a companheira da alegria e um bálsamo
para o sofrimento.
David Hockney fala das dificuldades de representação dos
instrumentos musicais de formas arredondadas (violas, por exemplo).
Este autor (e artista) defende que, desde o início da Idade
Moderna, muitos artistas serviram-se de recursos como lentes,
espelhos e até pequenas engenhocas artesanais, que lhes permitiam
transpor para uma superfície plana (bidimensional) a imagem refletida
de objetos tridimensionais, a fim de captar em perspectiva as curvaturas
de instrumentos musicais, por exemplo. Hockney apresenta indícios
para sustentar sua teoria. Primeiro, o fato de estar documentado que
havia o conhecimento de tal tecnologia naquela época (por exemplo,
um dos vizinhos de Vermeer foi um importante construtor de lentes).
Segundo, a obra Os
embaixadores, de Holbein, na qual encontramos um alaúde
em perspectiva (instrumento de dificílima representação
naturalista)
e uma forma "estranha" que se projeta no chão. Na imagem
parece uma mancha alógica naquele contexto. Hockney, no entanto,
manipulou a forma digitalmente e mostrou que se trata da imagem de uma
caveira distorcida, alongada, efeito que o deslocamento da posição
do espelho refletor pode provocar. O autor interpreta esta imagem como
uma pista que Holbein nos deixou sobre os procedimentos técnicos
que utilizava.
Ao entrar na Mansão, no Hall,
o jogador depara-se com um órgão que, ao ser acionado,
provoca um tremendo estrago no ambiente. Este instrumento foi criado
a partir de um órgão germânico, um Arp-Schnitger
setecentista, atualmente localizado na Catedral da Sé, da cidade
de Mariana, Minas Gerais, Brasil. Ele se encontra em ótimas condições
de conservação e preserva suas características
sonoras originais. Tal instrumento foi instalado na catedral em 1753,
por ordem de Dom João V, depois de ter ficado cerca de 50 anos
em uma Igreja Franciscana. Na verdade, Arp-Schnitger produziu dois órgãos
idênticos. O outro foi para Portugal mas, devido a um terremoto
em 1755, sofreu danos irreparáveis, produzindo alterações
em suas características sonoras. Isso faz do exemplar de Mariana
um instrumento único.
Para
saber mais sobre este instrumento:
>> Site com informações do
fabricante (em alemão): http://www.arpschnitger.nl/smariana1.html
>> Site específico sobre o instrumento
que se encontra na Catedral da Sé, em Mariana (em português
e inglês): http://www.orgaodase.com.br
Atualização em 30/01/2006.