A temática religiosa é a predominante na arte da Idade Média e do Renascimento, na Idade Moderna. Os enfoques, porém, são diferentes. Se e a arte medieval destacava o conteúdo dogmático, já que tinha um papel catequizador na sociedade da época, a arte renascentista rejeitou a supremacia do dogma e representou o tema religioso em meio à realidade do homem de sua época (com roupas e artefatos modernos, em salões de festas, praças, jardins privados e até em quartos). Essa mudança de abordagem aconteceu de forma gradual. Entre os séculos XII e XIII a estrutura feudal medieval começou a decair e as cidades a ressurgir; as viagens tornavam-se menos arriscadas e mais freqüentes; as pessoas manifestavam maior interesse em conhecer e desfrutar dos produtos de regiões diversas, o que revitalizou o comércio monetário. A burguesia surgiu com este comércio, e entrou na Idade Moderna com uma certa estabilidade econômica e influência política. Ela também atuou como mecenas para as Artes Liberais do renascimento, consolidando culturalmente a sua influência social. Foi o início do processo de secularização da cultura ocidental, que culminou apenas na Idade Contemporânea, quando a arte passou a tratar de outros temas além da Religião, como a natureza, o indivíduo, a filosofia e o cotidiano social.

No período medieval, a imagem não relacionava a temática sagrada com a realidade mundana, considerada impura, humana. A imagem renascentista recebeu, mesmo em temas religiosos, uma abordagem mais humana do que celestial (Humanismo). Os escritos de São Tomás de Aquino, no século XIII, já revalorizavam a realidade humana além da divina: “Deus gosta de todas as coisas, pois cada uma delas está em harmonia com Sua essência”. Mas foi no século XV que a iconogafia da Igreja se transformou. Os personagens dos temas religiosos foram ambientados na realidade cotidiana da Idade Moderna e representados com o maior naturalismo possível. Assim, através de uma obra como São Jerônimo em seu estúdio, de Messina, em que o personagem São Jerônimo é representado no interior de um mosteiro da época, podemos ter uma idéia muito clara do homem do século XV, desde o seu cotidiano específico até os seus ideais filosóficos.

A obra O Sonho de Santa Úrsula, do italiano Carpaccio, nos mostra um quarto renascentista. Desde a Idade Antiga e Média, as camas costumavam ser cobertas por uma estrutura chamada dossel, da qual pendiam cortinas que cumpriam a função de proteger quem dormia do frio e da poeira e dar privacidade, além de servir como quebra-luz. No renascimento, o dossel tornou-se mais sofisticado (com seda, veludo e fios de ouro), de acordo com o poder aquisitivo do seu proprietário. A imagem da cama neste Carpaccio nos fornece pistas sobre a personagem principal da cena: uma princesa com vocação para o cristianismo, seu ambiente íntimo é um perfeito equilíbrio entre sofisticação e sobriedade.

Em A Anunciação, do alemão Weyden, temos outro quarto renascentista, agora com uma maior riqueza de detalhes. Essa é uma característica específica da arte da Europa Setentrional da época - outras são a recorrência de temáticas de cunho moral e uma certa expressividade contida nos personagens. A obra A Morte e o Avarento, de Bosch, por exemplo, retrata o momento final de um pecador (o avarento) em meio a ícones de tradições diversas (o crucifixo sobre a cama, a morte com a foice, a figura animalesca do diabo) que o atormentam em seu leito de morte. A cena se passa, novamente, em um quarto renascentista, mas agora os personagens deixam transparecer suas emoções: espanto, benevolência, indiferença.

A obra barroca José acusado pela mulher de Potifar, de Rembrandt, outra cena bíblica ambientada em um quarto, difere-se muito das imagens de quarto mencionadas acima. Rembrandt não se preocupou em detalhar o ambiente e os objetos, a expressão instantânea dos personagens e a dramaticidade da cena eram os focos de sua atenção.

O quarto principal da Mansão de Quelícera apresenta um tipo de ornamentação rebuscada (arabescos, móveis mais entalhados e multicoloridos), diferente da sobriedade das obras do século XV referidas acima (sobre composição renascentista, ver Hall). Na Mansão de Quelícera, a dramaticidade é fundamental para transformar em imagem o mistério da trama do jogo (ver Masmorra). Por esta razão, por mais que o desenho dos cenários da Mansão de Quelícera lembre muito as composições renascentistas, o seu tratamento de luz e cor mostram a referencia buscada na arte barroca.

 

Atualização em 16/01/2006.

Apresentação do Site do Educador

 


Messina.
São Jerônimo em seu estúdio
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Carpaccio.
O Sonho de Santa Úrsula.


Weyden.
A Anunciação.


Bosch.
A Morte e o Avarento.


Rembrandt.
José acusado pela mulher de Potifar